Dra Patrícia Figueira Fisioterapeuta Especializada em Oncologia, Linfedema, Linfoterapia
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1. Após enfaixar, não voltará a inchar?

O enfaixamento é o principal tratamento para o linfedema, onde se conseguem as maiores perdas de volume e melhora da textura do membro.

Infelizmente este volume que é reduzido, nem sempre se mantem e as principais causas são:

  • Falta de adesão ao uso de meias e braçadeiras
  • Colocação incorreta de meias e braçadeiras
  • Indicação inadequada de compressão (tamanho, tipo de malha, pressão)
  • Perda da elasticidade da meia e braçadeira (uso prolongado ou cuidados inadequados com o material).
  • Custo das compressões elásticas
  • Ganho de peso
  • Não realizar exercícios adequados
  • Processo infecciosos e inflamatórios

 

 

2. Posso fazer exercícios e carregar peso com linfedema?. 
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O linfedema é uma condição crônica, que tem tratamento mas não tem cura. Uma vez adquirido, sempre vai exigir cuidados e tratamentos constantes.
Quem ajuda o sistema linfático a funcionar?
Resposta: Contração muscular
O sistema linfático não tem uma bomba como o coração para fazer a linfa circular, ele conta então com a contração muscular ou o que chamamos, principalmente para os membros inferiores, as BIAs (bombas impulso-aspirativas). Essas BIAs são grupamentos musculares que quando estimulados de forma correta otimizam a circulação linfática e venosa.
Exercícios com carga ou peso deixam esses músculos mais fortes e auxiliam na circulação.
Qual peso devo carregar? 
O peso deve ser individualizado, começar com cargas menores e aumentar progressivamente, conforme o objetivo.
Lembrete: Faça os exercícios com a sua braçadeira ou meia compressiva.

3. Posso dormir com meias de compressão?

 

Imagino que esta seja uma dúvida frequente entre as pessoas que apresentam linfedema. E sabe por que? Porque os profissionais de saúde dão informações desencontradas. Uns falam que pode usar e outros que não.

Quem diz que NÃO, argumenta que a pele precisa respirar, que não precisa, porque você estará com as pernas para cima, e também que causará algum incômodo. 

Quem diz que SIM, argumenta que a fisiopatologia do Linfedema continua à noite, diferente do edema que responde quando elevado, o linfedema não cede com a elevação do membro.

A minha resposta: Eu oriento a meus pacientes de linfedema, logo após o término do enfaixamento, quando está iniciando o uso de meias, dormir com as mesmas.

Com o passar do tempo, se o volume estiver sob controle, peso sob controle, atividade física em dia, que o paciente tire um dia sim, outro não, para ver como o inchaço responderá. Ficando tudo bem, pode dormir sem as meias. Caso haja aumento do volume retornar ao seu uso. O mesmo vale para braçadeiras.

O ideal avaliar caso a caso.

Bom senso e acompanhamento!

 

4. Por que tenho linfedema?

Diversas são as causas do linfedema.  Podem ocorrer após uma cirurgia, com a retirada de linfonodos (linfedema secundário); podem ocorrer após os linfáticos sofrerem algum trauma; podem ocorrer por picada de um mosquito específico levando a Filariose; podem ocorrer por que sem qualquer explicação o seu linfático torna-se insuficiente, sem exercer a sua função corretamente (linfedema primário); ou ainda, alguma anormalidade genética (síndromes genéticas).

O que nos intriga às vezes, no caso das cirurgias oncológicas, é por que alguém  retira 30 linfonodos e não tem linfedema e outros retiram apenas 1 e apresentam linfedema?

Além de outros fatores de risco associados, como a radioterapia, a quimioterapia do mesmo lado da cirurgia, idade, sobrepeso, entre outros, o que pode explicar esta condição é o paciente apresentar um linfático com deficiência previamente à cirurgia. Diante de um simples desequilíbrio, o sistema linfático “fadiga” e deixa de cumprir a sua função corretamente.

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5. Linfedema dói?

Linfedema não deveria doer, mas dependendo de algumas condições pode doer sim.

Quando o volume é muito grande, quando está mais endurecido, quando está próximo de articulações, quando o movimento fica limitado são algumas das situações que dores estarão presentes nos membros com linfedema. Quando há alguma deformação e pressão  do corpo, mecanorreceptores são estimulados, deflagrando a sensação de dor.

Outra condição, são os linfedemas causados pela doença ativa (câncer), a compressão de nervos e vasos pelo tumor podem levar à dor e perda de movimento, além de edema, é o que chamamos de linfedema neoplásico. 

No distúrbio de gordura, chamado Lipedema, muitas vezes confundido com o linfedema, a dor é mais frequente. 

O tratamento para redução de volume, melhora da textura da pele e ganho de movimento, deve ser realizado, para se melhorar as condições de dor e melhorar a qualidade de vida!

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6. O taping ajuda a tratar o linfedema?

 

O taping linfático tem sido utilizado há alguns anos, como uma técnica auxiliar no tratamento do linfedema. 
Algumas aplicações: 
•    anastomoses axilo-axilar e axilo-inguinais; 
•    no membro afetado com linfedema;
•    em regiões mais endurecidas, com fibrose.
Não substitui o enfaixamento compressivo mas pode ser uma opção de tratamento quando a terapia compressiva não é bem tolerada.
Melhores resultados são obtidos em linfedemas mais iniciais e de menor grau.

7. Quais os direitos do paciente com linfedema?
O portador de linfedema pode ser considerado um Portador de Necessidades Especiais (PNE).
Inúmeros são os seus direitos, como requerer CNH especial, requerer jornadas de trabalho diferenciadas ou solicitar readaptações em seu ambiente de trabalho, requerer auxílio do INSS, entre outros. Para conhecer melhor os seus direitos leia a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015). 
Linfedema é uma condição crônica, que se não devidamente tratada progride com aumento de volume e endurecimento da pele e que acompanha uma série de cuidados e tratamentos por parte do seu portador, como acompanhamento médico e fisioterapêutico, uso de vestimentas elásticas e inelásticas, e em alguns casos roupas especiais para poder se adaptar ao membro com maior volume.
Informe-se e exija os seus direitos!

 

8. Caso eu realize alguma cirurgia no membro, meu linfedema pode piorar?
Infelizmente sim.
Estruturas do sistema linfático podem ser lesadas durante a cirurgia, comprometendo um sistema que já é insuficiente. Além disso, a cirurgia gera uma inflamação e ainda pode gerar um processo infeccioso. Para resolução e reparo destes processos, o número de células de defesa será aumentado, o que também favorece a descompensação do linfedema.
Pra completar, após a cirurgia há uma diminuição de atividade física, menor movimentação articular, e desta forma menos contração muscular, para favorecer o transporte linfático.
Algumas cirurgias não podem ser adiadas e são extremamente necessárias, caso o seu linfedema descompense, retorne ao seu médico e ao seu fisioterapeuta especialista.

9. Linfedemas genéticos: como identificar e tratar?

Linfedemas genéticos/hereditários não são tão frequentes, mas podem ocorrer acompanhados de outras características clínicas como nos casos das síndromes Milroy, Noonan, unhas amarelas.
Existem alguns testes clínicos para identificação de genes  alterados, principalmente os relacionados à alteração de embriogênese e no desenvolvimento do sistema linfático.
Mutações em FLT4 (VEGFR3), FOXC2, SOX18, HGF e MET, podem ser identificadas como a causa do linfedema primário.
O grande problema destes testes esbarra no custo e em laboratórios disponíveis para sua realização.
Assim como a maioria dos  linfedemas, não há cura, mas medidas podem ser tomadas para que o volume e textura do membro não progridam, como por exemplo, o uso de terapia compressiva, por meio do enfaixamento e uso de meias elásticas.

10. Por que hidratar o membro com linfedema?

Está vendo esta foto no post? Ela retrata uma pele que estava inchada e acabou de tirar o enfaixamento compressivo. Com a redução do volume, em apenas um dia, aquela pele que estava esticada, sofre um efeito chamado na cerâmica de craquelê/craquelado, que seria uma rachadura, aqui no caso da pele.
Como novos dias de enfaixamento virão, uma hidratação eficiente se faz necessária.
Mesmo quando tiver em uso de meias e braçadeiras essa hidratação é recomendada. Pele hidratada é sinônimo de pele protegida contra rachaduras, pequenas lesões e como consequência de infecções.
Próxima pergunta: Qual o melhor creme?
Primeira resposta: aquele que você usará. Não adianta comprar um creme caro e deixa-lo na gaveta.
Existe uma variedade de cremes, para todos os bolsos e gostos, existem até alguns específicos para pacientes oncológicos. Prefira os mais neutros, com menos odores e com textura mais cremosa mesmo (nem tão líquido, nem tão endurecido/pastoso).